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Os tatuadores – 3
“Os turcos são muçulmanos, maronitas, cismáticos, judeus, e nestas religiões diversas não há gente mais cheia de abusões, de receios, de medos. Nas casas da Rua da Alfândega, Núncio e Senhor dos Passos, existem, sob o soalho, feitiçarias estranhas, e a tatuagem forra a pele dos homens como amuletos. Os maronitas pintam iniciais, corações; os…
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Os tatuadores – 2
“Da tatuagem no Rio faz-se o mais variado estudo da crendice. Por ele se reconstrói a vidaamorosa e social de toda a classe humilde, a classe dos ganhadores, dos viciados, das fúfias16 de portaaberta, cuja alegria e cujas dores se desdobram no estreito espaço das alfurjas17 e das chombergas18 ,cujas tragédias de amor morrem nos…
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Os tatuadores – 1
“— Quer marcar?Era um petiz de doze anos talvez. A roupa em frangalhos, os pés nus, as mãos pouco limpas eum certo ar de dignidade na pergunta. O interlocutor, um rapazola louro, com uma dourada carne deadolescente, sentado a uma porta, indagou:— Por quanto?— É conforme, continuou o petiz. É inicial ou coroa?— É um…
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Pequenas Profissões
“Nos botequins, fonógrafos roufenhos esganiçavam canções picarescas; numa taberna escuracom turcos e fuzileiros navais, dois violões e um cavaquinho repinicavam. Pelas calçadas, paradas àsesquinas, à beira do quiosque, meretrizes de galho de arruda atrás da orelha e chinelinho na ponta do pé,carregadores espapaçados14 , rapazes de camisa de meia e calça branca bombacha com o…
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O que se vê nas ruas – 9
“As ruas são tão humanas, vivem tanto e formam de tal maneira os seus habitantes, que há até ruas em conflito com outras. Os malandros e os garotos de uma olham para os de outra como para inimigos. Em 1805, há um século, era assim: os capoeiras da Praia não podiam passar por Santa Luzia.…
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O que se vê nas ruas – 8
“A rua fatalmente cria o seu tipo urbano como a estrada criou o tipo social. Todos nós conhecemos o tipo do rapaz do Largo do Machado: cabelo à americana, roupas amplas à inglesa, lencinho minúsculo no punho largo, bengala de volta, pretensões às línguas estrangeiras, calças dobradas como Eduardo VII e toda a snobopolis do…
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O que se vê nas ruas – 2
“A Rua da Misericórdia, ao contrário, com as suas hospedarias lôbregas, a miséria, a desgraçadas casas velhas e a cair, os corredores bafientos, é perpetuamente lamentável. Foi a primeira rua do Rio. Dela partimos todos nós, nela passaram os vice-reis malandros, os gananciosos, os escravos nus,os senhores em redes; nela vicejou a imundície, nela desabotoou…