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  • Clara dos Anjos – 2

    “A rua em que estava situada a sua casa se desenvolvia no plano e, quando chovia, encharcava e ficava que nem um pântano; entretanto, era povoada e se fazia caminho obrigado das margens da Central para a longínqua e habitada freguesia de Inhaúma. Carroções, carros, autocaminhões que, quase diariamente, andam por aquelas bandas a suprir…

  • Os tatuadores – 3

    “Os turcos são muçulmanos, maronitas, cismáticos, judeus, e nestas religiões diversas não há gente mais cheia de abusões, de receios, de medos. Nas casas da Rua da Alfândega, Núncio e Senhor dos Passos, existem, sob o soalho, feitiçarias estranhas, e a tatuagem forra a pele dos homens como amuletos. Os maronitas pintam iniciais, corações; os…

  • Os tatuadores – 2

    “Da tatuagem no Rio faz-se o mais variado estudo da crendice. Por ele se reconstrói a vidaamorosa e social de toda a classe humilde, a classe dos ganhadores, dos viciados, das fúfias16 de portaaberta, cuja alegria e cujas dores se desdobram no estreito espaço das alfurjas17 e das chombergas18 ,cujas tragédias de amor morrem nos…

  • Os tatuadores – 1

    “— Quer marcar?Era um petiz de doze anos talvez. A roupa em frangalhos, os pés nus, as mãos pouco limpas eum certo ar de dignidade na pergunta. O interlocutor, um rapazola louro, com uma dourada carne deadolescente, sentado a uma porta, indagou:— Por quanto?— É conforme, continuou o petiz. É inicial ou coroa?— É um…

  • Pequenas Profissões

    “Nos botequins, fonógrafos roufenhos esganiçavam canções picarescas; numa taberna escuracom turcos e fuzileiros navais, dois violões e um cavaquinho repinicavam. Pelas calçadas, paradas àsesquinas, à beira do quiosque, meretrizes de galho de arruda atrás da orelha e chinelinho na ponta do pé,carregadores espapaçados14 , rapazes de camisa de meia e calça branca bombacha com o…

  • O que se vê nas ruas – 9

    “As ruas são tão humanas, vivem tanto e formam de tal maneira os seus habitantes, que há até ruas em conflito com outras. Os malandros e os garotos de uma olham para os de outra como para inimigos. Em 1805, há um século, era assim: os capoeiras da Praia não podiam passar por Santa Luzia.…

  • O que se vê nas ruas – 8

    “A rua fatalmente cria o seu tipo urbano como a estrada criou o tipo social. Todos nós conhecemos o tipo do rapaz do Largo do Machado: cabelo à americana, roupas amplas à inglesa, lencinho minúsculo no punho largo, bengala de volta, pretensões às línguas estrangeiras, calças dobradas como Eduardo VII e toda a snobopolis do…

  • O que se vê nas ruas – 5

    “Não vos lembrais da Rua do Sacramento, da rua dos penhores? Uma aragem fina e suave encantava sempre o ar. Defronte à igreja, casas velhas guardavam pessoas tradicionais. No Tesouro, por entre as grades de ferro, uma ou outra cara desocupada. E era ali que se empenhavam as jóias, que pobres entes angustiados iam levar…

  • O que se vê nas ruas – 2

    “A Rua da Misericórdia, ao contrário, com as suas hospedarias lôbregas, a miséria, a desgraçadas casas velhas e a cair, os corredores bafientos, é perpetuamente lamentável. Foi a primeira rua do Rio. Dela partimos todos nós, nela passaram os vice-reis malandros, os gananciosos, os escravos nus,os senhores em redes; nela vicejou a imundície, nela desabotoou…

  • O que se vê nas ruas – 1

    “Vede a Rua do Ouvidor. É a fanfarronada em pessoa, exagerando, mentindo, tomando parte em tudo, mas desertando, correndo os taipais das montras à mais leve sombra de perigo. Esse beco inferno de pose, de vaidade, de inveja, tem a especialidade da bravata. E fatalmente oposicionista, criou o boato, o “diz-se…”aterrador e o “fecha-fecha” prudente.…