Ao entrar na rua da Guarda Velha, Cândido Neves começou a afrouxar o passo.
— Hei de entregá-lo o mais tarde que puder — murmurou ele.
Mas não sendo a rua inënita ou sequer longa, viria a acabá-la; foi então que
lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à rua da Ajuda.
Chegou ao ëm do beco e, indo a dobrar à direita, na direção do largo da
Ajuda, viu do lado oposto um vulto de mulher: era a mulata fugida. Não dou
aqui a comoção de Cândido Neves por não podê-lo fazer com a intensidade
real. Um adjetivo basta; digamos enorme. Descendo a mulher, desceu ele
também; a poucos passos estava a farmácia onde obtivera a informação, que
referi acima. Entrou, achou o farmacêutico, pediu-lhe a ëneza de guardar a
criança por um instante; viria buscá-la sem falta.
— Mas…
Cândido Neves não lhe deu tempo de dizer nada; saiu rápido, atravessou a
rua, até o ponto em que pudesse pegar a mulher sem dar alarma. No extremo
da rua, quando ela ia a descer a de São José, Cândido Neves aproximou-se dela.
Era a mesma, era a mulata fujona.
— Arminda! — bradou, conforme a nomeava o anúncio.”
Assis, Machado de. Pai contra Mãe. Relíquias de casa velha, 1906. In: Assis, Machado de, 1839-1908. Todos os contos, volume 1 / Machado de Assis; introdução de Ana Lucia Machado de Oliveira. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019